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O que dizem de nós
"De que tempos falamos quando ouvimos que a Caótica vai ter uma festa de 10 anos? Dos mil fragmentos expulsos da memória densa saiu “emoções e alimento”. Nas quatro mãos desta dupla, António-Pedro e Caroline Bergeron, moldam-se blocos espaçotempo imaginados que elas recortam cuidadosamente da vida e do mundo para pousá-los numa assembleia que constrói e agencia novas formas de estarmos juntos.Eles teimam em escapar às categorias e grelhas que jamais estarão neste caos bom, a não ser com todas as suas paredes demolidas; são corpos “teimosos” e “resistentes” que, na arte, descobrem a frecha de luz para entrar numa “casa” onde se espraia o que de mais humano há, o que nos faz sentir mais perto e mais nós. Por isso, há de tudo: amor e perda, alegria e desgosto, afeto e zanga, memórias comuns... As sábias pinças de veludo da Caótica permitem não deixar nada, de nenhuma vida, de fora.
Madalena Wallenstein – coordenadora Fábrica das Artes CCB
“Para mim, a Companhia Caótica foi uma das mais brilhantes revelações de 2015. Poemas para bocas pequenas, cocriação de Margarida Mestre e António-Pedro, foi um regalo de humor e inteligência, um concerto de uma inesperada ambiência indie, muito cool, muito entusiasmante e delicioso para todas as idades.Na barriga, de Caroline Bergeron, é um delicado poema-teatral, uma ode visual ao nascimento de um bebé. Didáctico, despudorado, inteligente, simples e despretensioso: tremenda e subtilmente eficaz.Mas confesso que o meu entusiasmo em relação à Caótica se deve sobretudo ao espetáculo Sopa Nuvem: um thriller gastronómico (vencedor do prestigiado prémio Momix 2014), concebido por Caroline Bergeron e António-Pedro. Sopa Nuvem é um espetáculo raro, de honesto e sincero que é. É também um daqueles espetáculos que levanta uma questão nada despicienda: para quem é o espetáculo dirigido – para as crianças ou para os pais? Não é uma questão que seja motivada pelo confronto com as mesmas estratégias narrativas do universo Pixar, onde se apresentam filmes claramente dirigidos a públicos juvenis com subtis e imperceptíveis piscar-de-olhos aos pais... Em Sopa Nuvem não há piscar-de-olhos – toda a estrutura dramatúrgica do espetáculo assenta nesta derrapagem e cumplicidade entre todo o público, não importa qual a idade. É, com efeito, um espetáculo poderosíssimo, indispensável – a meu ver – para qualquer idade. (…) Terno, engraçado, nostálgico, sombrio, misturando eventos da vida real com uma narrativa borgesiana (elíptica e labiríntica), é um espetáculo para todos aqueles que já perderam um pai; para aqueles que têm medo de vir a perder um pai; para aqueles que são pais e que se preocupam com o futuro; para aqueles que cozinham para as suas famílias; para aqueles que estão determinados a aprender a cozinhar um dia destes... Mas é sobretudo para aqueles que não prescindem de um belíssimo e inesquecível espetáculo de teatro. Este espetáculo transforma numa sopa quentinha todas as dúvidas sobre o futuro, sobre a perda de modelos e sobre a angústia de ter de educar os filhos num mundo perfeitamente caótico e assustador. Tudo isto misturando, a gosto, o medo da morte com o desejo de gozar a vida e baralhando o individualismo e o recolhimento ao espaço doméstico com a necessidade de tocar e ser tocado pela vida dos outros... Da sopa sobra uma lição muito importante: viver não é coisa simples nem fácil, mas a vida há que ser vivida, estejamos nós prontos ou não.”
Rui Pina Coelho, crítico e dramaturgo
“Tenho acompanhado de perto a Caótica desde a sua fundação. Evidencio a consistência do seu trabalho no campo da criação artística para a infância e juventude, elogiado pelo público e pelos pares, comprovado na circulação tanto nacional como internacional associada a organizações culturais de referência.Destaco ainda a dimensão social e educativa do seu trabalho em projectos especiais desenvolvidos com a comunidade e para a comunidade, muitas vezes em contextos carenciados, bem como a capacidade de iniciativa da Companhia Caótica na organização de eventos dirigidos à comunidade artística no intuito de promover a reflexão, o debate e a experimentação artística, partilhando recursos, inquietações e saberes no intuito de qualificar e dar visibilidade à produção artística para a infância.”
Maria de Assis, programadora e gestora cultural